Ana Raspini é viajante, além de professora de Inglês, e escritora.

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Brasileira, professora de Inglês, escritora, mas acima de tudo, viajante.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Sobre o Andar (ou Ode aos meus Pés)

Numa trilha semana passada para a qual eu não havia me preparado fisicamente, comecei a pensar sobre os pés.

Primeiramente, devo me explicar: eu geralmente sei exatamente qual tipo de trilha vou fazer e me preparo fisicamente nas semanas anteriores de acordo com a dificuldade do trajeto a ser percorrido. Se a trilha é de resistência por tempo, faço caminhadas mais longas. Se a trilha é de resistência por dificuldade de solo (íngreme, escorregadio, etc), procuro fazer caminhadas em solos similares.

Porém, eu não sabia absolutamente nada sobre aquela trilha e, pra piorar, um início de semestre bem corrido dificultou minha preparação física. Caminhei pouco e em terreno plano. Grande erro.

Chegando na trilha, o terreno era absurdamente íngreme e, não sendo suficiente para me assustar, também era escorregadio e irregular: mudava de campo aberto para mata fechada, e de pedras para barro.

Numa luta interna e externa, pois meu rosto vermelho não me deixava esconder, questionei se conseguiria alcançar o topo. Minha família estava comigo e minha mãe teve problemas similares. Em certo momento eu disse a ela: “É assim mesmo, a gente acha que não vai alcançar mais nem um metro, e quando o alcança, tenta mais um, e mais um. Viajar também é assim, uma superação a cada minuto”.

Foi então que me dei conta da importância do andar. Cada passo é uma superação, seja na trilha íngreme que você não acha que vai terminar, seja nos muitos quilômetros percorrendo um país novo. Os passos vão ficando cada vez mais difíceis, porém, a sensação de ser capaz de continuar é libertadora.

Andar tem essa coisa de místico, porque é quase transcendental atravessar quilômetros com os próprios pés. Andar é a prova de que a resiliência é a chave para alcançar grandes conquistas, ou grandes distâncias, que é quase a mesma coisa.

Sempre que chego de uma trilha ou de uma viagem longa, paro longamente para olhar e massagear meus pés. É minha homenagem pessoal a essas ferramentas que já me levaram tão longe. Cuido deles para que continuem me levando aonde meu coração quiser.


O escritor e velejador Amyr Klink já dizia: “"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livro ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece, para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como imaginamos e não simplesmente como ele é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver... Il faut aller voir - é preciso ir ver!"
(Mar sem fim)


Ou, como diria Johnny Walker: Keep walking!




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